Pensando sobre o tema “Aprendendo a Conviver”, me recordei da minha época de colegial:
Eu realmente não gostava de ir à escola, para mim era o pior momento dos meus dias. Não me lembro quantas vezes me escondi para não ir, e nem quantas vezes, estando na escola, eu fugi dela. Lembro-me que quando meus pais me levavam, eles tinham que ficar por lá durante um tempo sentados até eu me acalmar, só então eles retornavam para casa. É óbvio que isso foi enquanto criança, não tinha a consciência do quanto àqueles momentos em sala de aula me serviriam para a vida.
Mas isso acontece também com muitos adultos, não vão para a sala de aula sendo obrigados pelos pais, vão porquê querem, porem cumprem uma obrigatoriedade da responsabilidade em relação à necessidade de sobrevivência. Nos adultos existe uma compreensão de que é necessário estudar. É necessário porque o que estuda, tem maiores probabilidades de obter sucesso na vida, principalmente na questão financeira.
Mas hoje eu fico pensando, porque muitas crianças não gostam de ir à aula, porque muitos adultos só vão pelo senso de responsabilidade? Sendo que o tempo que se passa em um momento de aula, é o mínimo em relação a todo tempo que temos na semana, isso falando do colegial ou faculdades. Pior é que o tempo numa EBD é um mínimo em relação um dia, muito menos, em relação a uma semana. Normalmente temos apenas uma hora, isso é muito pouco!
Sei que até aqui eu falei de uma realidade educacional fora da igreja, porem, com o propósito de mostrar que as pessoas já vivem a maior parte de suas vidas, tendo dificuldades na questão educacional, tendo dificuldades de estar em uma sala de aula. Evidentemente que, se é fato o desprazer em estar em aula por muitas pessoas, o problema não está nas pessoas. Embora costumam taxar essas pessoas de “irresponsáveis”, “desinteressadas”, “relapsas” etc. A resolução do problema não acontecerá a partir delas, e sim de nós professores.
Dentre outros adjetivos que podemos utilizar, vivemos em uma sociedade imediatista, onde o tempo não é mais visto passar, as horas passam e as pessoas não percebem, pois os seus tempos estão sempre cheios de tarefas e muitas vezes o que foi planejado para uma segunda-feira, só se consegue concluir na sexta-feira. As pessoas vivem cansadas, estressadas e muitas delas vivem numa depressão leve e nem se percebem na beira de um abismo!
Sem falar que no dia-a-dia das pessoas dificilmente se falam dos valores que moldam o caráter do ser humano (os valores cristãos). E isso faz com que cada dia vivido por boa parte das pessoas seja uma jornada rumo à degradação moral. Pois, segundo Mateus 12:34, o nosso Senhor Jesus disse que “a boca fala do que está cheio o coração“, e se as pessoas pouco falam sobre os valores cristãos, pouco os valores cristão estão dentro de si.
Levando em conta as questões do dia-a-dia do cotidiano de nossa sociedade, podemos entender que uma sala de aula monótona, não serve de bom atrativo para ninguém, mesmo que o assunto seja Deus. Esse problema pode acontecer, porque muitas vezes, embora nosso discurso seja Deus, falamos sobre ele, o autor da vida, como se estivéssemos falando sobre a morte. Ou seja, sem nenhum entusiasmo. Alguns fazem para cumprir uma obrigação, não porque não querem ensinar, mas porque não dedicou tempo no se preparar. Observem, se o professor dá aula apenas para cumprir uma obrigatoriedade, imaginem o aluno que está “assistindo”. É óbvio que com o tempo eles vão desaparecendo.
O tempo da EBD é muito curto se pensarmos no ponto de vista do todo da vida, porem, é inteligente permanecermos com este pouco tempo, se aproveita-lo de maneira que faça com que as pessoas sintam saudades dos domingos, sintam saudades da EBD. Sobre isso, me lembro do salmista Davi, quando disse “Alegrei-me quando me disseram vamos à casa do Senhor” (Sl 122:1). Fico analisando como hoje muitos de nós apenas reproduzem esta frase que foi dita por Davi em um momento verdadeiro de sua vida, sem mesmo analisar o que estamos reproduzindo, não o que quer dizer a frase, isto é óbvio, mas se o que ela diz é uma verdade nas nossas vidas.
Não temos que reproduzir. Temos que analisar se é uma alegria de fato. Se não está sendo, vamos descobrir o porquê, e resolver!
Muitas vezes reproduzimos assuntos já conhecidos por todos, e questões irrelevantes que não trabalham no caráter das pessoas, como eu já vi por exemplo pessoas discutindo em EBD “dízimo vs salvação”, classes que não são de novos convertidos discutindo isso? O pior é que cada um acha uma coisa, e isso resulta numa confusão na comunidade, pois assuntos como este, deve ser definido com o pastor da igreja, ou alguém que tenha conhecimento suficiente de esclarecer as duas questões que na verdade não tem nada haver uma com a outra. Mas falam e reproduzem e confundem as pessoas, umas as outras e muitos saem da EBD com uma interrogação enorme na cabeça como eu já vi muitas vezes. As pessoas, já vivem e convivem com questões desgastantes durante toda a semana, e ir a EBD para viverem a mesma coisa?
Sabemos que existem várias didáticas. Dentre elas a tecnicista e a reflexiva.
Na didática tecnicista, o aluno é somente conduzido a um conhecimento imposto pelo professor, o aluno pouco tem abertura para pensar, questionar ou mudar.
Na didática reflexiva, todo contexto sociocultural do aluno é levado em conta. Eles não apenas participam das aulas, como também constroem o curso com o professor. O professor deixa de ser um ditador, dono da verdade e passa a se integrar com os alunos, passa a conviver.
É importante entender que nós sofremos influencia direta do tecnicismo. Antes éramos ensinados a ensinar de uma forma completamente ditatória. Eu tive professores num curso de bacharel que nem nos permitia questionar. Éramos como os gansos que são separados para venda de fígados: os “maltratadores” deles abrem forçadamente seus bicos, e com um funil derrama ração, para forçar a engorda mais rápida do que o normal. Evidentemente que este método ao invés de dar saúde ao animal, deixava-o doente. Da mesma forma é o método tecnicista (sob meu ponto de vista). Só enche o aluno de informações tidas como corretas, mas não deixa a sua boca livre para questionar, e se o aluno não está questionando, estamos formando pensadores cristãos, ou robôs?
Com uma didática reflexiva, nós vivemos, revivemos e aprendemos a conviver. Discordo plenamente que exista uma regra que nos ensine a conviver. Para mim, conviver é uma arte, que como vemos o belo no abstrato, convivemos com diferentes e sendo diferente e no dia-a-dia aprendemos e praticamos o conviver com prazer. Isto está no escutar o outro, em ouvir seus problemas e soluções, em caminhar e parar, no levantar e no sentar, no observar de cada gesto, de cada feição, podemos não só entender como também compreender o outro. E nisso se dá a convivência. A partir de então, teremos ferramentas suficientes para elaborarmos aulas atrativas, com temas que realmente contribuirão com o crescimento espiritual e o caráter de cada pessoa que se faz presente.
Erick Silva